O filme Elle (2016) estrelado pela musa do cinema francês Isabelle Huppert é mais
um trabalho do diretor holandês Paul Verhoeven. A decisão do diretor de fazer o filme em
francês surgiu pelo fato do roteiro ter sido rejeitado por diversas
atrizes americanas de Hollywood. Foi aí que Paul decidiu aprender a falar francês,
já que ele havia estudado um francês básico na escola quando era criança, para
poder trabalhar com todo o elenco nessa língua estrangeira.
Nessa história, somos convidados a embarcar numa trama de gato e rato nada convencional. Dona de uma empresa de jogos virtuais, separada, mãe de um filho irresponsável já adulto, Michèlle (Isabelle Huppert) mora com seu gato numa casa grande e luxuosa. Logo no começo do filme, o espectador é jogado na cena em que Michèlle está sendo estuprada por um homem mascarado dentro de sua própria casa. O gato de estimação dela, aliás, está lá assistindo o estupro de sua dona do início ao fim.
Nessa história, somos convidados a embarcar numa trama de gato e rato nada convencional. Dona de uma empresa de jogos virtuais, separada, mãe de um filho irresponsável já adulto, Michèlle (Isabelle Huppert) mora com seu gato numa casa grande e luxuosa. Logo no começo do filme, o espectador é jogado na cena em que Michèlle está sendo estuprada por um homem mascarado dentro de sua própria casa. O gato de estimação dela, aliás, está lá assistindo o estupro de sua dona do início ao fim.
Após o susto, Michèlle decide não
denunciar o crime para a polícia; ela anuncia essa atitude num jantar em que
estão reunidos um casal de amigos e seu ex-marido que, apesar de ficarem
preocupados com a segurança dela, respeitam sua decisão. A trama vai ganhando
um ar ainda maior de mistério, quando Michèlle começa a receber mensagens no seu
celular do estuprador e até mesmo dentro de sua própria casa. Nossa
protagonista entra, então, em uma caçada obsessiva atrás dele, à medida em que
ela começa a desconfiar de vários homens que convivem com ela, especialmente dos
colegas de trabalho que são seus subordinados na empresa que desenvolve jogos
online.
No entanto, os conflitos que
surgem em torno da personagem não ficam restritos a essa caçada. O filme mostra
outros problemas no âmbito familiar com os quais ela tem que se envolver. O
filho que não consegue se estabilizar num emprego e que tem uma namorada
grávida; a mãe já idosa que está num relacionamento sério com um michê; e,
finalmente, seu pai que está preso por ter cometido uma chacina com a ajuda de
Michèlle, quando ela era pequena. Em todos esses núcleos de relacionamento da
protagonista, fica claro que ela é bastante resiliente e que desenvolveu uma atitude cínica diante da
vida, já que ela está acostumada a conviver com a violência praticada pelas
pessoas mais próximas, ou seja, pelos familiares. Apesar dessa atitude
funcionar como um escudo para não se envolver com os problemas alheios, ela não
deixa de observar o que está acontecendo com as pessoas a sua volta nem de
continuar se relacionando com elas (ainda que haja um certo prazer em vê-las se
dando mal de vez em quando). De volta ao jogo de gato e rato, Michèlle
finalmente descobre quem é o seu estuprador e embarca na fantasia sexual dele. Não
vou comentar outras cenas a partir daí para não atrapalhar tanto as surpresas
do filme.
Com uma trama repleta de reviravoltas, Verhoever
trabalha com a dualidade dos acontecimentos da vida de Michèlle, uma vida
tragicômica, assim como qualquer outra, apesar de todos os traumas familiares e
da violência causada pelo mundo. Ao final do filme, me parece que dizer que o perigo mora ao lado não é o suficiente.
O perigo também pode morar debaixo do seu teto e debaixo do seu próprio nariz. Não deixem de conferir esse filme!