sexta-feira, 20 de junho de 2014

A limitação do professor em "Entre os muros da escola"

 Entre os muros da escola (Entre les murs, 2008, de Laurent Cantet) é um filme de produção francesa que mostra a realidade complexa nos dias atuais de uma escola pública na França. Diferentemente de muitos filmes que mostram a figura do professor como um herói que, no final da história, consegue mudar a vida dos alunos, esse filme nos mostra a incapacidade do professor resolver problemas que ocorrem dentro da escola. 
Somos apresentados a um jovem professor de língua francesa, chamado François Marin (François Bégaudeau), que precisa encarar o cotidiano de seu trabalho numa nova escola onde os alunos não o respeitam como deveriam e que, além disso, começam a questionar seu trabalho dentro de sala de aula. Nesse momento, a inquietação na turma causada por duas alunas, que estão sempre dispostas a criar situações em que François tenha que se justificar, nos dá a sensação de que há um conflito a ser resolvido entre a insatisfação dos alunos por estarem ali na escola de certa forma obrigados e o professor que quer exercer sua função e se frustra ao perceber que seu trabalho não pode ser realizado efetivamente sem a cooperação dos alunos rebeldes, desatentos ou desmotivados.
 

É nesse ponto que o filme mostra a sua originalidade, pois François tem a tarefa de ensinar alunos de diferentes culturas convivendo num mesmo espaço que, claramente, não está preparado para compreendê-los; daí nasce a difícil relação professor-aluno dentro da sala de aula. A tentativa de resolução dos conflitos feita pelo professor através de conversa com os alunos nem sempre é eficaz, já que o aspecto afetivo deles é uma barreira muito grande, e em alguns casos intransponível, que interfere na comunicação entre eles. A postura do professor diante de todas as discussões que vão desde às perguntas em relação à utilidade do conteúdo que é passado pelo professor até as brigas entre os próprios alunos (ou entre os alunos e o professor) indica a limitação desse profissional dentro da escola. Incapaz de fazer todos os alunos se dedicarem aos estudos e de tentar educá-los para que eles se adequem ao regimento da escola, o professor François vai se tornando cada vez mais impotente (e impaciente também) ao longo do filme, sobretudo nos conflitos que vão surgindo com diferentes alunos cuja solução não está nas mãos de François, como no caso da expatriação de um membro da família de um aluno chinês (um problema comum num país como a França que recebe muitos imigrantes de várias partes do mundo).


 Apesar de toda a angústia em acompanhar a complicada relação de François e sua turma ao longo do ano, esse filme também mostra que não é somente na sala de aula que os alunos podem aprender, pois a vida oferece outras oportunidades de aprendizagem, que até deixa François impressionado, como no caso da aluna que mais o perturbava ter lido por indicação de sua irmã A república de Platão e ter gostado do livro. Além disso, o filme também acerta ao mostrar que os alunos se interessam por alguns assuntos ensinados nas disciplinas da escola, por mais que esse seja um lugar de conflitos na maior parte do tempo.
O que ficou marcado para mim nesse filme é o fato de que é melhor frequentar a escola mesmo que ela não funcione da maneira ideal do que ficar fora dos muros dela, sem contato com todo esse mundo de conhecimento que está aí para ser descoberto. Assim, o filme deixa os conflitos vividos no espaço escolar em aberto e, de maneira bastante verossímil, expõe a incapacidade da figura do professor (e a comunidade escolar como um todo) em lidar com certos problemas em relação aos alunos. Somos surpreendidos ao perceber que nossas expectativas de que tudo será resolvido no final são quebradas, porque nada acontece, simplesmente o tempo passa e aquele momento vivido ali também. O final do filme apenas mostra aquilo que realmente acontece na escola pública: a convivência (ora complicada, ora prazerosa) com pessoas diferentes e isso por si só já é bastante significativo.




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